sábado, 28 de abril de 2012

A 28 de Abril de 1855


«José Vital Branco Malhoa nasceu em 28 de Abril de 1855, na Travessa de S. Sebastião naquela que era, à época, a Vila das Caldas da Rainha. De origem social modesta, foi o terceiro [1] filho de Ana Clemência e Joaquim Malhoa, abegão de ofício. Os sinos da igreja de Nossa Senhora do Pópulo repicaram no dia 15 de Maio quando foi baptizado. Bem fadado por madrinha notável, o próprio orago do templo, teve por padrinho o abastado lavrador e patrão de seu pai, José Sales Henriques. (…)

            (…) Aos 12 anos, sabendo ler, escrever e contar, tudo o que era preciso para dar entrada [na Academia de Belas–Artes], Malhoa iniciou o seu percurso. O carácter vitalista que se ia formando não o fadou para uma boa classificação inicial. O professor da Cadeira de Desenho de Ornato desesperava ao registar: «pouca aplicação, pouco aproveitamento e comportamento péssimo»… Porém, esta conduta rapidamente melhorou: segundo o seu testemunho pessoal, conseguiu o primeiro prémio em todos os anos e concluiu o curso de pintura com elevada classificação. Talvez «porque grande, muito grande é a força do desenho», no dizer de Francisco de Holanda, Malhoa manifestou uma paixão particular pelas aulas de pintura de Paisagem e de Desenho. De resto, os magníficos traços que deixou, expressam a importância que até ao fim da vida atribuiu a este saber (…)»

Sandra Leandro, in José Malhoa, Arting, 2008. pp. 33, 34.


Como se percebe, fazem hoje 157 anos que nasceu Malhoa. Sobre este assunto, já quase tudo foi dito. E, por isso, mais vale copiar uma prosa decente.
A acrescentar só o Retrato de Minha Mãe, 1872, onde o jovem Malhoa, então com 17 anos, retrata Ana Clemência. Desenho a carvão, com 30x23, ainda tímido de traço, mas que o Artista sempre guardou zelosamente e cujo destino, a par do «retrato da minha falecida mulher», deixa bem determinado.

Fica, assinalando a data e o nascimento do nosso amigo.







Ainda do jovem Malhoa, mais dois desenhos, também a carvão, trabalhos escolares que ilustram, de outro modo, o que antes foi escrito.
Uma paisagem de 1870 – aos 15 anos portanto – com 43x29.



E um desenho de modelo (ou será de Ornato?), 61x47, com uma indicação curiosa, a lápis e sob a assinatura: «prova d’exame 1º (?) anno / escola de Bellas Artes». A assim ser, anterior àquela última data.










Por fim, dois retratos do Malhoa rapaz.
Uma foto tirada no «Loureiro, C. Ourique 10», talvez a mais antiga que se conheça.















E um medalhão em gesso, 31x23, datado de 1874, de João Rodrigues Vieira, outro dos do Leão, ao tempo ainda Escultor,  que tudo indica retrate José Malhoa aos 19 anos.



28 Abr. 2012. LBG.


[1]  Na verdade, o quinto filho. 
À data do escrito, a própria Autora refere já a existência, para além do mais velho e conhecido irmão Joaquim, das duas irmãs que acompanharam Malhoa durante largos anos da sua vida – Maria Rita, desde cedo, e Maria José, após ter ficado viúva (ver nota 3, p.116, op. cit.). 
Desconhecia-se contudo a sequência exacta do nascimento dos irmãos Malhoa.
Entretanto, numa conferência proferida no Museu José Malhoa, em 26 Abr. 2015, o Dr. Rui Calisto trouxe novos contributos a este assunto: desvendou a existência de um quinto irmão, de seu nome João (1848-1859), falecido aos onze anos de idade (quando o pequenino José Malhoa tinha apenas quatro, portanto); e revelou as datas de nascimento de todos os outros. Percebe-se agora, graças a este contributo, que José Malhoa terá sido o quinto e último filho de Joaquim Malhoa e Ana Clemência.
Assim, e ainda sem absoluta certeza quanto a algumas das datas de falecimento (acrescentos já de minha responsabilidade), fica a lista sequêncial dos cinco os irmãos: Joaquim (1845-c.1917), João (1848- ? ), Maria Rita (1851-c.1925), Maria José (1853-1936) e José Vital (1855-1933).

Jun.2015. LBG.

(Rectificação e adenda à nota anterior.)
Como tenho o defeito de não acreditar em tudo o que me dizem, fui verificar. E às fontes primárias, isto é aos Registos Paroquiais...
Depois de muito procurar, mas debalde, nos registos da freguesia do Coto (que ouvi anunciada como a de origem dos mais velhos irmãos Malhoa - ou será que sonhei?), resolvi voltar aos registos da freguesia de Nª Sª do Pópulo. E, afinal, estão lá todos! 
São todos os cinco irmãos naturais e baptizados na dita freguesia de Nª Sª do Pópulo. Tal como o era a mãe, Ana Clemência (ou também, noutro registo, «Anna Maria»). E também nesta mesma freguesia «foram recebidos» (casaram) Joaquim Malhoa e Ana Clemência. 
Da freguesia do Coto, apenas era originário o pai, Joaquim Malhoa.
Não tem por isso qualquer sentido o entendimento (que terei ouvido, ou apenas sonhado?) segundo o qual, só pouco antes do nascimento de José, a família se havia mudado para a freguesia mais urbana da então vila das Caldas da Rainha. Segundo os Registos consultados, pelo menos desde 1844, presumivelmente a data do matrimónio de Joaquim e Ana Clemência Malhoa (o casamento realizou-se em 23 Dez.1844), a famíia era freguesa de Nª Sª do Pópulo.
Quanto à profissão do pai de Malhoa, «abegão de ofício» - conforme é uso atribuir pelo menos desde o escrito por A. Montez em 1950 - os registos são absolutamente omissos. 
Já em relação ao personagem «José Sales Henriques», padrinho de José Malhoa, «abastado lavrador e patrão de seu pai», surge efectivamente mencionado como o padrinho do acto e antecedido de um inusitado «Illm.º Snr. Jose Salles Henrique» (sem o 's' final). Seria, assim, pessoa de um certo respeito. Se «abastado», «lavrador», ou «patrão do pai», nada o confirma. Teremos, nisso, de continuar a dar por bom o escrito de Montez...
Curiosa e aparentemente, o mesmo personagem (embora grafado de diferentes modos) participou antes nos baptismos das duas irmãs de Malhoa. Em 4.3.1851, é padrinho de Maria (Rita), aparecendo registado como «José Joaquim de Salles Henriques». E, em 30.1.1853, no baptismo de Maria (José), é «José Henrique Salles» quem representa Nª Sª do Pópulo, a Madrinha, «tocando com as suas contas» a baptizada.
Por fim, e já agora, fica também o registo dos avós paternos - João Francisco Malhoa e Bernardina Maria - e maternos - João Moreira Branco e Maria Clemência.

(Eu, por mim, continuarei professo a S. Tomé...)

Abr.2016. LBG.

(Adenda à adenda e às duas notas anteriores)
Ao fim de três anos, finalmente, foi editado em livro o conteúdo da comunicação referida na nota inicial.
Lido o livro com toda a atenção, foi possível perceber duas coisas: 
1º. Que aquilo que referi, anterior e eufemisticamente, como tendo «sonhado», por não ter a certeza de ter sido ou não proferido no tal colóquio (fora então apenas percebido de ouvido) foi-o efectivamente. E infelizmente, sublinhe-se. Porque, como demostro aqui (e como, aliás, já referia na adenda de Abr.2016) tal não passa de um completo disparate.
2º. Que a pretensa data da morte do tal irmão de JMalhoa, o até então desconhecido João, não passa também de outro perfeito disparate. Como explico igualmente aqui.
Assim, mantendo (para memória futura) o que antes foi publicado, opto por assinalar claramente o que então escrevi de errado. E as emendas agora efectuadas.
Por conseguinte, as datas biográficas relativas a João Malhoa, o segundo filho do casal Ana e Joaquim Malhoa, devem, correctamente e até futura investigação credível, ser assinaladas deste modo: Joâo Branco Malhoa (1848 - ? )Isto porque, na verdade e até agora, ninguém saberá quando ele terá realmente falecido. 
E peço desculpa pelo engano, por ter acreditado levianamente em quem, pelo visto, não merecia grande crédito.

15 Set.2018. LBG.

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