terça-feira, 24 de abril de 2012

Das bodas do José e da Júlia…



Hoje, 29 de Janeiro, fariam anos de casados José e Júlia Malhoa.




Para comemorar as Bodas de Prata de tal data, ofereceram-se este par de argolas de guardanapo no mesmo metal. Uma com a data do enlace «1880», a outra com 25 anos mais «1905». Era a altura da “Arte-Nova”, e as argolas acompanham o estilo.

(Cinco anos mais tarde, Manuel H. Pinto e Mª da Conceição repetirão entre si a graça, com argolas semelhantes e datas ajustadas – 1885 e 1910)

Mais que as argolas, convém não esquecer, José e Júlia presenteiam-se, nesse ano de 1905, com casa nova, nas Avenidas também Novas, projectada pelo novo Arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior, logo premiada com o novo Prémio Valmor (será a terceira a receber tal prémio - não atribuído no ano anterior, para desespero do Lambertini, e apesar dos tectos e frescos do Malhoa…).

Ei-la, acabadinha de fazer, toda airosa, na Avenida António Maria do Avelar, ainda, e ainda sem carros.


E, como as argolas, também à “la page” - “Arte-Nova”, pois então!
Tal como os frisos e painéis azulejares que a embelezam. Eloy, dizem [1], Malhoa e Ramalho.

Do António Ramalho Júnior, a tela a óleo de A Glória, também “Arte-Nova” chapada, assim e do avesso reproduzida nos painéis de azulejo que ladeiam o grande janelão do atelier. Fica para assinalar a data.

 (Hoje, tal edifício é a Casa-Museu Anastácio Gonçalves, e vale sempre uma visita...)






Sobre o casamento propriamente, foi pelas oito da manhã do dia 29 de Janeiro de 1880, na Igreja do Sacramento, ali ao Chiado.

Malhoa devia estar, mais ou menos, assim.

E pronto!







Para mau gosto, já basta uma versão do assento do acto que por aí anda, e em duplicado ainda por cima!
Metade é aldrabado - copiado mal-e-porcamente. Alguém pensou que tinha descoberto segredinho novo, salivou, arreganhou a boca, mordeu a língua, turvou-se-lhe a vista - tresleu - e com a sofreguidão comeu metade das palavras. O resultado é lastimável. E não havia necessidade…
(Eu bem que avisei, aqui atrasado…Agora, queixem-se que tenho mau feitio!)
Assim, onde e quando lerem que Malhoa, por essa altura, «mora na Rua da Conceição» fiquem sabendo que deveriam ler «… na Rua do Crucifixo, nº 50, freguesia da Conceição». O endereço, como outras coisas, foi tragado com a avidez da gula!
Esta era, aliás, a mesmíssima morada do “mano” Joaquim. Na esquina com S. Nicolau, mais pertinho da loja dos chapéus e das escadinhas de S. Francisco por onde subia até à Academia.
Mas a nova asneirola já rola, ufana, resultado da ânsia coscuvilheira.

E siga a marinha!




Publicado originalmente em 29 Jan.2012. LBG.



 [1] Sobre este assunto, ver a interessante tese do Arq. António Cota Fevereiro, Álvaro Augusto Machado, José António Jorge Pinto e o movimento arte nova em Portugal, ULL, Maio 2011. Ali se percebe a diferença entre as pinturas originais a fresco atribuídas a Eloy e os azulejos que as substituíram (c. 1914?), muito provavelmente, da autoria de José António Jorge Pinto. Repetindo os motivos de Malhoa e Ramalho nos painéis principais, mas alterando o desenho nos frisos decorativos. A comparação entre fotos de 1905/6 e outras mais tardias parece prová-lo claramente.


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