sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Na data da morte de Malhoa



            No dia 26 de Outubro de 1933 morreu, no seu «Casulo», em Figueiró dos Vinhos, José Malhoa.

            Ficam dois artigos publicados na época.
O primeiro publicado na primeira página de «A Regeneração» de 4 de Novembro, «semanário», então quinzenal, que se publicava em Figueiró.
O segundo, na revista lisboeta «Ilustração», nº 21 (189) 8º ano, de 1 de Novembro de 1933, número que na capa reproduzia Os Bêbados, 1907, e mais umas linhas a propósito manuscritas por Júlio Dantas (que pode ver aqui) .





               Uma primeira nota sobre o artigo do “jornal de combate” (já aqui falado) do Dr. Barreiros, simultaneamente director, editor e presidente camarário:
               A resolução de «armar a sala das sessões em câmara ardente» terá sido debalde – reza a estória que o corpo foi velado no atelier do «Casulo», rodeado pelos garridos xailes e trajes populares que ornavam a suas paredes, ao contrário dos habituais crepes negros…





Sobre o escrito da «Ilustração», duas outras notas:
Veja-se a foto inicial deste artigo e o desenho do catálogo da Exposição no Rio de Janeiro, de Dezembro deste mesmo ano, já anteriormente aqui comentado.
 Note-se ainda a ânsia em enumerar os vários títulos que O Fado, 1910, teve no seu périplo além-fronteiras – e lá aparece o célebre e bizarro «Será verdad?», repetidamente reproduzido posteriormente por tudo quanto é sítio mais ou menos sério como o alegado título do quadro na Exposição Internacional do Centenário da República da Argentina.
Bizarro e asnático - que Bajo el encanto é o nome que ali teve, a par de Cebollas rojas, e Mañana los arreglaré e Basta padre mio! - os outros quadros então expostos, é bom não esquecer... Tal «verdad», como outras, é afinal mentira.

(Se se derem ao trabalho de abrir a citada revista, podem ainda ver um artigo sobre a novidade científica da televisão; impressões de viagem sobre Munique, a cerveja e a ideia hitleriana; notícia do julgamento dos ditos “incendiários” do Reichtag; uma foto do Adolfo, ele mesmo; e uns cartoons com cruzes gamadas… sinais do tempo... mas também dois belos artigos sobre cinema. Podeis fruir.)

           
 26 Out. 2012. LBG.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Viva (ainda) a República!

… e a pouca vergonha?!



Neste último 5 de Outubro como feriado oficial, resolveram esconder-se do Povo, comemorar escondidos, ou ausentar-se para parte incerta… Lá terão as suas razões.
 
Mas isto brada aos céus!

Na varanda onde José Relvas proclamou a República em 1910, as ditas primeira e segunda figuras do Estado (a terceira foi à sua vidinha), o presidente da primeira Câmara Municipal cá do sítio e mais uns tantos, lá estão, cantando e rindo, enquanto içam a Bandeira da República de pernas ao ar?! E a coisa foi até ao fim – circulam por aí fotos com a Bandeira do avesso desfraldada…

Já não há pingo de vergonha?

Confesso que, pessoalmente, pouco ligo a essas coisas de “pátria” e “nação” – fiquei vacinado do tempo da “bufa” - mas mantenho o respeito.
Ora, pelo visto, estes(as) senhores(as) não!

Ele há umas leis quanto ao uso, funções e demais disposições dos Símbolos Nacionais. Disso sei pouco, mas esta gentinha tem obrigação de saber.
Não basta, nestes últimos tempos, terem resolvido que a Bandeira da República se pode usar como se fosse um “broche” – para identificar a pandilha e amigos chegados que nos desgoverna – coisa nunca antes vista, mas que os deixa contentinhos e com ar de “patriotas”… Faltava agora esta!
E querem que a gente os respeite?! Haja decência!
 

Isto está de tal forma, que até o bom do Zé Relvas fugiu da sua cadeira, lá nos Patudos [1], danado com tamanha pouca vergonha!

JMalhoa, Estudo para o Retrato póstumo de José Relvas. c.1930. ost 23x27,5

 
5 Out. 2012. LBG.

[1] Antes disto, estava como o podem ver aqui .

Viva a República!


«Meu caro Luiz
Em primeiro lugar: Viva a republica!
Como tens tu passado?
Agradecido pelo teu cuidado, todos estamos bons, e saudamos o novo regimen.
Então o que me dizes tu a tudo isto, à bravura dos nossos soldados, ao nosso povo que já não tem capilé nas veias e ao nosso governo?
Estou encantado com a boa orientação da nossa gente. E tu?... …
Desejava ver-te porque tenho coisas novas que deves gostar, tais como, medalha da guerra Peninsular, uma estatua Despertar, uns marmores, etc. Até quando?
saudades do teu primo muito amigo José.
|Saude e Républica…|»

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Datada de Lisboa, a 9 de Outubro de 1910, apenas quatro dias após a Proclamação de República, eis um postal de José Simões d’Almeida (sob.º) para o seu primo Luiz d’Almeida Pinto. Nele, o escultor do conhecido busto da República dá conta dos primeiros sentimentos quanto à mudança de regime.
 
(E dois meses e meio depois, pelo Natal, a menina do Despertar também iria, já em postal ilustrado… Mas não é isso o que agora aqui nos traz)
 
 
 
 
 
 
 
 
J Simões d'Almeida (sobº) Busto da República, 1908
De José Simões d’Almeida Sobrinho (1880-1950) é este Busto da República, 1908, ainda contemporâneo do reinado bragantino, encomenda da Câmara Municipal de Lisboa, já então de vereação republicana, e mais tarde reproduzido às centenas, ou copiado à exaustão em versões mais ou menos fieis ou de gosto mais popular.
 
Aqui numa das suas versões originais, em gesso - oferta do Autor ao Clube Figueiroense e actualmente depositado na Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos, a terra que o viu nascer.
 
 
 
J Simões d'Almeida (sobº) Busto da República, 1910
Fica também uma outra versão, a menos conhecida, o Busto da República, 1910, já moldado sob o novo regime republicano, possivelmente a versão para o concurso oficial - ganho por outro (que ganhou “as mesmas”, pois o busto do Simões já havia conquistado o coração do povo, saído á rua nos funerais dos heróis da República, e assim ficou…)

Esta outra versão, assinada e datada de 1910, faz parte do antigo acervo da Escola Industrial Jacôme Ratton, de Tomar - ao tempo dirigida pelo tio do Escultor, o pintor Manuel Henrique Pinto, o pai do Luiz a quem aquele postalinho foi dirigido.
 
 
 
Por fim, em dia 5 de Outubro, uma outra pouco conhecida obra da época, celebrando a Revolução Republicana. Da autoria de José Maria de Sousa Moura Girão (1840-1916), outro dos pintores do Grupo do Leão, o quadro Viva a República, 1910.

 José Moura Girão, Viva a República, 1910
 
Trata-se de um óleo sobre tela, com 45x35 cm, assinado e datado «J. Gyrão, 1910» e que foi apresentado na 9ª Exposição da SNBA, 1911, com reprodução fotográfica no respectivo catálogo [1].
            Um dos habituais galos emplumados de Girão, um dos raros que se exibem a cantar, anuncia a aurora republicana, empoleirado numa das barricadas da Rotunda. Ao fundo, dando Vivas à República, o povo agita armas, chapéus e bandeiras. Note-se, nestas, a troca das cores relativamente ao que viria a ser estabelecido pela Comissão participada por Columbano – aqui, o campo vermelho apresenta-se do lado da tralha – Girão regista, muito provavelmente, o verde e rubro carbonário.

Viva a República!


5 Out. 2012. LBG.









[1]  Reproduzido aqui a cores a partir do livro de Manuel Nunes Corrêa, Moura Girão 1840-1916. Lisboa 1983.